29.3.07
28.3.07
27.3.07
A telefonia brasileira II
- Não, é da Exame.
- Ué, me passaram esse número. Você pode me ajudar?
- Diga.
- Você sabe me dizer se a Veja e a Exame são impressas no mesmo lugar?
- Quem está falando?
- É Fernanda*.
- E por que você quer essa informação?
- É que eu comprei uma Veja, mas metade dela era Exame.
- Puxa (contendo o riso), eu não sei nem como te ajudar! Beeeeeeeeijo.
*Os nomes foram trocados para preservar a identidade das personagens.
***
- Olha, o primeiro contato foi em dezembro. E vocês me disseram que eu tinha três dias para passar as informações, me conta uma assessoria de imprensa. Depois, em janeiro, voltaram a pedir dados, novamente com um prazo curto. Se eu soubesse que teria até o dia 27 de março, teria passado. Agora eu não tenho mesmo como ajudar.
- É como a história do Pedro e o lobo, né?, pergunto eu em um momento de inspiração literária.
26.3.07
A telefonia brasileira
- Eu queria falar com o Jun do Turismo.
- João?
- Não, Jun, do Turismo!
- Junior, motorista?
***
- É da Revista Exame.
- Da onde? Do Suriname?
***
- Eu preciso de informações sobre o Monte Roraima.. Eu queria saber...
- O Monte Roraima está localizado no maciço de Paracaima. Esse grande bloco de pedras se caracteriza por escarpas enormes com 2.875 m de altitude.Também conhecidos por tepuis, os montes, que lembram a forma de uma mesa, estão localizados no ponto de trijunção das fronteiras Brasil, Venezuela e Repúbica Cooperativa da Guiana...
- Não! Eu só queria saber quantos turistas passam lá por ano!
- Humpf!
***
(Eu ligando para alguma Secretaria de Segurança do Nordeste:)
- É a Luisa, de São Paulo.
- Oi, Luiiiisa! E aí, como está em São Paulo!
- Para mim, super quente. Mas para vocês não deve estar. E o crime por aí, como anda?
***
- Fomento ao turismo!
- Como é? Fo o quê? Estou me sentindo analfabeta hoje!
24.3.07
Por novas Shirleys
Foi, enfim, dessa resumida tese que me lembrei ao saber que o projeto Amores Expressos, da Companhia das Letras, vem sendo criticado por blogueiros e escritores brasileiros que ficaram de fora dele. É o seguinte: o produtor, Rodrigo Teixeira, está pleiteando os benefícios da Lei Rouanet para mandar 16 autores brasileiros para o exterior. Cada um passará um mês em uma cidade com tudo pago (Paris, Nova Iorque, Cairo, Praga etc.) e, na volta, escreverá uma história de amor.
Vários caras assumiram que estão com ciúmes e inveja - uma panelinha teria sido graciosamente contemplada. Outros dizem que o dinheiro público está financiado clichês (orçamento: RS 1,2 mi).
Sabe o que eu acho? Se a Adriana Lisboa passar esse mês em Paris e ainda escrever uma hisória boa, sem nada de clichês, ficarei muito feliz. O mesmo vale para todos os outros. Melhor seria acontecer como disse o produtor: se o benefício não virar, ela vai pagar do próprio bolso. Aliás, se não virar, vou ter uma segunda chance para ver o Cirque du Soleil?
****
Recortei para Hilda Hilst a fala de Sérgio Sant'Anna na Folha de hoje: "As pessoas só aceitam o escritor se ele estiver fodido. Parece que só isso legitima o que ele faz"
****
Bovary gostaria de ir a Paris, naturalmente (não aguenta mais a vida de província). Shirley, um pouco desisteressada, aceitaria ser mandada a Istambul (embora Marçal Aquino esteja destinado a Roma).
23.3.07
Pacto de sangue
22.3.07
Realidade prismática
Shirley está apreensiva, louca para tomar cerveja. Mas fez alongamento pela manhã e uma longa caminhada no início da noite. Atendeu diversos amigos ao telefone e perdeu outras ligações importantes e bem-vindas. Está se fortalecendo com a oportunidade fugaz de estar no lugar onde pretende ficar. Planeja, passo-a-passo, o que fará para conseguir. Tem novidades rolando, mas peso agora é só na aula de pilates. Prefere ir encaixando os programas e ver no que vai dar. Se o e-mail não chegar, tudo bem. Não era para acontecer. Outros mensageiros virão.
Bovary quis chorar; Shirley secou.
20.3.07
Ao Mr. Murphy
Obrigada.
19.3.07
Frase de hoje, na Folha:
Shirley e o catolicismo de Bovary
Era segunda-feira. Jozi marcara para mim um encontro com Jorge Amanajás, presidente da Assembléia Legislativa do Amapá. Ele me apresentaria o Desafio, uma rede de cursinhos - criada e dirigida por ele - para alunos carentes.
Enquanto esperávamos por ele, já dentro de uma das unidades, sentamos em uma mesa dessas de plástico branco, em frente a uma dessas barraquinhas que vendem coxinhas por R$ 0,50. Eu estava com fome e ansiosa (embarcaria na viagem pelo Rio Amazonas em algumas horas), e decidi comer uma deliciosa e fofufa esfiha. Naturalmente, a ela se seguiu um Marlboro Light.
Foi então que estas duas gracinhas interromperam o prazer do meu tabaco:
- Sabia que Deus não gosta de quem fuma?, perguntou a de bermuda laranja.
Eu estava preparada para perguntar coisas sérias ao Amanajás (por que e como você planta soja e cria búfalos em território amazônico? Por que você patrocina qualquer evento a pedido de qualquer pessoa? Por que você não tenta melhorar a educação no Estado em vez de manter um cursinho?), mas não para enfrentar discussões religiosas. Ainda assim, consegui dizer:
- Ah é?
A falta do que dizer me fez pensar em toda uma vida de pecados. Aí lancei para a carinha curiosa:
- E beber? Pode?
- Não. Jesus não gosta de quem bebe.
- Puxa (decepcionada). Não pode fumar e nem beber?
- Não.
- Ah! E namorar, pode?
Quando eu estava pronta para pensar de que forma pagaria penitências, ela disse:
- Pode beijar. Mas namorar mesmo é só depois do casamento.
- Ufa! Ainda bem. Imagina se, além de não pode beber e fumar, eu não pudesse também namorar?
- Sabe, eu tenho muito medo de dar meu anel para um homem.
Ela tem cinco anos.
Depois de muita risada, fui tomada por um sentimento nobre. Eu queria catequizá-las. Decidi usar meu bloquinho de anotações para ensiná-las a desenhar corações. A delaranja conseguiu de primeira. A de rosa, bem quietinha, aprendeu depois de algumas tentativas.
18.3.07
Cosmologia
Poucas pessoas são apaixonadas por Fanta light.
Duas pessoas cultivam as duas paixões.
Graças ao Sem Nome, essas duas pessoas se conhecem. E, mais uma vez agradecendo à Superfície de Gelo Ancorada no Riso, uma delas está sempre disposta a não deixar a outra desistir.
16.3.07
A Semana
A Unicamp criou um indicador de qualidade do trabalho metropolitano brasileiro. Curioso. Bem na semana em que eu fiz o mesmo estudo, mas de forma empírica. Os resultados foram o mesmo.
***
No caso do jornalista, a falta de qualidade do trabalho está associada a vários fatores. Um deles pode ser deduzido por quem acompanha o ranking "+ lidos", sempre à sua direita na Folha Online.
15.3.07
Um pontinho do nariz
É assim que Barthes define aquele detalhe pelo qual vislumbramos todo um outro universo da pessoal amada (Ana Bruner chamaria de “pontinho branco no quadro negro”). Pode ser um olhar atravessado – nesses casos, descobrimos traços indesejados de personalidade. Um movimento mais brusco do corpo. Uma sílaba destoante no meio de uma frase. Ou o volume da voz, alterado durante a fala ou na mudança de interlocutor. Quando falta desejo, pode ser um pacote de camisinha dentro de um nécessaire. Ou o contraste entre o ânimo dele quando fala com a minha prima e o desânimo quando responde minha pergunta.
Mme. Bovary omnia vincit
Ela é invencível. Shirley ainda dá as caras, mas só às vezes.
Ontem, no Genésio, quase pedi uma taça de vinho branco. Vamos lá, eu nem gosto assim de vinho. Sorte que era bem mais caro do que o chopp!
Enfim, eu até poderia ter avançado. Só não ia adiantar nada, pois hoje eu abri o livro bem na página 74. E eles estavam lá:
"... Te descobres vivo sob um jugo novo.
Te ordenas. E eu desliqüescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo pra mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza."
Reformulando: Hilda Hilst sempre vence.